O risco invisível nas alturas: como a trombofilia pode ser agravada em voos
Caio Fonseca/Redação RedeTV!Em clima de férias, aumenta o alerta para riscos silenciosos durante viagens aéreas
(Foto: Freepik - imagem ilustrativa)
Com a chegada das férias, cresce o número de pessoas que querem relaxar, se divertir e viajar para fugir da rotina. No entanto, um risco pouco discutido pode transformar esse momento de lazer em tragédia: a trombose venosa profunda (TVP) durante voos, tanto curtos quanto longos. O problema pode ser fatal, especialmente em pessoas com trombofilia, uma condição genética que altera a coagulação do sangue.
O tema voltou à tona após casos de passageiros que enfrentaram complicações médicas durante ou logo após viagens aéreas. Um dos episódios mais marcantes ocorreu em 2022, com a brasileira Maria de Lourdes Araújo dos Santos, de 75 anos. Ela saiu de São Paulo rumo a Paris, onde visitaria os cinco filhos, mas passou mal após desenvolver trombose durante o voo.
Para entender melhor os riscos, a RedeTV! conversou com o Dr. Fábio Sotelo, diretor da Sociedade Brasileira de Cirurgia Vascular, Regional São Paulo, e coordenador das equipes de cirurgia vascular da Beneficência Portuguesa de São Paulo e do Grupo Hapvida. Ele explicou como a trombofilia se manifesta, quais são os riscos e quais cuidados devem ser adotados, especialmente por idosos, grupo mais vulnerável a esse tipo de complicação.
Afinal, o que é trombose e trombofilia?
A trombose é a formação de um coágulo (trombo) dentro de um vaso sanguíneo, que pode impedir a circulação normal do sangue. Ela ocorre tanto em artérias quanto em veias, mas é mais comum nas veias profundas das pernas,sendo conhecida como TVP.
Já a trombofilia é uma condição crônica de hipercoagulação do sangue. Segundo o Dr. Fábio Sotelo, “durante voos, ocorre um estado trombofílico temporário, causado por fatores como baixa pressão e oxigenação, mas isso não é considerado trombofilia de fato”.
Como o voo interfere nisso?
A pressurização da cabine e as alterações na oxigenação causadas pela altitude levam a um desequilíbrio: aumentam os fatores de coagulação e reduzem os que dissolvem os coágulos. Resultado: maior risco de trombose.
“Quando o voo tem duração superior a quatro horas, o risco de trombose venosa profunda aumenta, podendo o trombo se deslocar até o pulmão, a chamada embolia pulmonar, que pode ser fatal. Estudos publicados em revistas como a New England Journal of Medicine mostram que o risco aumenta de duas a quatro vezes em voos acima de quatro horas”, explicou o especialista.
Esse foi o caso de Maria de Lourdes, que ficou cerca de 11 horas dentro do avião. O New England Journal of Medicine destacou que “viagens aéreas dobram o risco de tromboembolismo venoso, mas em pessoas com trombofilia genética esse risco sobe para 16 vezes”.
Sinais de alerta: quando buscar ajuda médica?
De acordo com Dr. Sotelo, muitos passageiros notam que as pernas “desincham” nos primeiros dias após o voo. Mas atenção: se o inchaço persistir ou surgir dor, especialmente nas panturrilhas, é hora de procurar ajuda.
“A simetria do inchaço e da dor é muito importante. Há situações como o empastamento, quando a panturrilha parece uma rocha, endurecida. A panturrilha normal deve tremular ao toque. Se ela estiver dura e rígida, esse é um sinal de alerta. Inchaços com mais de 3 cm de diferença entre os membros também são preocupantes”, alertou.
“É muito importante que, ao notar esses sinais, o indivíduo procure um serviço de saúde ou um cirurgião vascular. A trombose venosa profunda, quando tratada precocemente, evita complicações sérias, como a embolia pulmonar, que pode ter até 50% de mortalidade em casos sintomáticos e graves”, completou o médico.
Quem tem mais risco?
Veja os principais pontos:
• Pessoas com trombofilias hereditárias ou adquiridas já têm predisposição natural a eventos trombóticos.
• Esses pacientes precisam de cuidados adicionais durante voos.
• A Sociedade Americana de Hematologia recomenda:
• Caminhadas durante o voo;
• Hidratação constante;
• Em alguns casos, uso de medicamentos específicos, sempre sob prescrição médica.
• A trombofilia provoca formação anormal de coágulos, tanto no sistema venoso quanto na circulação pulmonar.
Perigo da automedicação e uso sem prescrição
Com a internet, cresce a disseminação de informações falsas, que podem levar à automedicação ou ao uso inadequado de meias de compressão. “Evitem ao máximo as fake news. A orientação deve ser feita por médicos. Embora o trabalho seja multidisciplinar, a prevenção da trombose venosa profunda passa, na maioria das vezes, por medidas não medicamentosas”, destacou o Dr. Sotelo.
O uso de meias de compressão, por exemplo, pode parecer simples, mas exige cuidado. “Em pacientes diabéticos com mais de 10 anos de diagnóstico, pode haver sensibilidade alterada. Se ele não sentir a meia machucando, pode desenvolver feridas e até sofrer amputações. Já os jovens e atletas, com indicação médica, podem se beneficiar do uso durante voos, pois reduz o risco de trombose”, orientou.
Alerta
Apesar de ser mais comum em idosos, jovens também não estão isentos dos riscos. Casos como o de Maria de Lourdes reforçam a importância de conhecer os sintomas e sinais da trombose, além de buscar orientação médica especializada antes de viagens longas.
• Trombofilias (hereditárias ou adquiridas) aumentam o risco de trombose, inclusive em voos.
• Voos longos (acima de 4 horas) elevam o risco de tromboembolismo venoso (TEV) em até 4 vezes.
• Ambientes com baixa umidade e desidratação favorecem a hemoconcentração e a formação de coágulos.
• Imobilidade prolongada (ficar muito tempo sentado) agrava o risco, principalmente em pessoas altas ou obesas.
• O uso indevido de álcool ou sedativos reduz a mobilidade e contribui para o risco trombótico.
• Meias de compressão e medicamentos (como heparinas) só devem ser utilizados com orientação médica.
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