Peça estampava o rosto da artista e uma mensagem de amor, em cerimônia marcada por emoção no Theatro Municipal

(Foto: Reprodução/Instagram) 

Na manhã desta sexta-feira (25), amigos, familiares e admiradores de Preta Gil se reuniram no Theatro Municipal do Rio de Janeiro para dar o último adeus à cantora, que faleceu no último domingo (20). O velório contou com um esquema especial de segurança, interdições no trânsito e uma série de homenagens emocionantes à artista, símbolo da luta antirracista e do empoderamento feminino no Brasil.

Uma das homenagens mais marcantes partiu da família e dos amigos mais próximos, que usaram camisetas personalizadas com o rosto de Preta estampado e a frase: “Preta tudo. Amor sempre foi ação.”

O saguão do Theatro Municipal foi adaptado especialmente para a cerimônia. Um espaço reservado aos familiares foi montado com um telão de LED exibindo imagens da cantora. Apesar do simbolismo da ocasião, não houve apresentações musicais ou trios elétricos durante o velório, conforme informou a família Gil. A despedida ocorreu de forma íntima e respeitosa.

A data do velório coincidiu com o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, uma coincidência significativa na trajetória de Preta, que sempre defendeu a valorização das mulheres negras, o combate ao racismo e o amor-próprio.

O cortejo da cantora também seguiu um trajeto simbólico: passou pelo circuito dos megablocos de Carnaval da cidade do Rio de Janeiro, que recentemente ganhou o nome da artista, em reconhecimento à sua contribuição para a cultura popular. Preta Gil foi fundadora e figura central do “Bloco da Preta”, um dos mais tradicionais do carnaval de rua carioca.

O corpo da cantora chegou ao Rio de Janeiro na noite de quinta-feira (24), após desembarcar no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Desde então, o entorno do Theatro Municipal passou a contar com bloqueios no tráfego, com atuação conjunta da CET-Rio, Guarda Municipal, Comlurb e Centro de Operações da Prefeitura.

Por volta das 15h, o corpo de Preta Gil será levado em cortejo, no carro do Corpo de Bombeiros, até a Capela Ecumênica do Crematório e Cemitério da Penitência, onde será realizada uma cerimônia restrita aos familiares e amigos íntimos.

Trajetória marcada por música, ativismo e representatividade

Nascida em 8 de agosto de 1974, no Rio de Janeiro, Preta Gil foi criada em um ambiente cercado por arte e cultura. O próprio nome da artista carrega uma história simbólica e afetiva, contada pelo pai, Gilberto Gil. “Na minha casa, Preta se tornou nome próprio. Quando fui fazer o registro da Preta Gil, eu falei para a moça registrar Preta. Ela perguntou: ‘Preta?’ Eu disse: ‘Sim. Se for Branca, Bianca, Clara, pode? Acho que a senhora já registrou muitas’. Aí ela colocou”, escreveu o cantor em sua conta no X (antigo Twitter).

Crescendo em meio a referências culturais e com uma rede de relações fortemente conectada ao meio artístico, Preta começou sua trajetória musical em 2003, ao lançar seu primeiro álbum, Prêt-à-Porter. O disco inclui a faixa “Sinais de Fogo”, em parceria com Ana Carolina, que marcou sua estreia com força no cenário da MPB.

Preta Gil sempre se posicionou como feminista e era conhecida por defender pautas sociais relevantes, como o combate à gordofobia, ao racismo e a luta por direitos da população LGBTQIAPN+.

Ao longo da carreira, ela lançou outros cinco discos – entre trabalhos de estúdio e gravações ao vivo: Preta (2005), Noite Preta ao Vivo (2010), Sou como Sou (2012), Bloco da Preta (2014) e Todas as Cores (2017). As produções contaram com colaborações de grandes nomes da música brasileira, incluindo Anitta, Ivete Sangalo, Lulu Santos, Thiaguinho e Pabllo Vittar.

Além da discografia, o Bloco da Preta se tornou um dos maiores blocos de Carnaval de rua do Rio de Janeiro. Criado em 2010, o projeto atrai multidões a cada nova edição e consolidou a artista como uma das figuras centrais da folia carioca.

Preta também teve passagem pela televisão, atuando em novelas, e, em 2017, passou a atuar no mercado publicitário. Foi quando se tornou sócia da Mynd, uma agência especializada na gestão de influenciadores digitais, ampliando sua atuação para além dos palcos.

Linha do Tempo – Preta Gil:

• 10 de janeiro de 2023: Anuncia diagnóstico de câncer colorretal (intestinal) após internação por desconforto no Rio de Janeiro, confirmando início do tratamento com quimioterapia;

• Abril de 2023: Durante o quinto ciclo de quimioterapia, é internada em UTI com sepse, pneumonia e pancreatite; quadro crítico com pressão muito baixa;

• Maio de 2023: Termina casamento com o personal trainer Rodrigo Godoy após revelar traição durante a internação na UTI;

• Agosto de 2023: Passa por cirurgia no Hospital Sírio‑Libanês: remoção do tumor, útero, ovários, apêndice e parte do reto; segue com ileostomia;

• Dezembro de 2023: Realiza nova cirurgia (21h) para reconstrução intestinal e reversão da ileostomia; recebe alta após 55 dias de internação;

• Janeiro–Fevereiro de 2024: Consegue alta hospitalar e segue com reabilitação. Aparece em público exibindo bolsa de colostomia para derrubar estigmas;

• Agosto de 2024: Informa recidiva com metástase em linfonodos pélvicos, peritônio e ureter; retoma quimioterapia;

• Setembro–Novembro de 2024: Internações frequentes, uso de bomba portátil de quimioterapia; passa por cirurgia emergencial para correção de cateter duplo-J;

• Maio de 2025: Após mais uma internação, viaja aos EUA para tratamento experimental; publica fotos e vídeos fortalecida e esperançosa;

• 20 de julho de 2025: Faleceu aos 50 anos, em Nova York, vítima de complicações do câncer colorretal. O anúncio oficial foi feito por sua equipe.

(Foto: Reprodução/AgNews)

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